CRÔNICA AMAZÔNICA: janeiro 2010

sábado, 30 de janeiro de 2010

Beira do Tapará

O Tapará é um dos afluentes do Tapajós. A poesia que segue marca o quanto o "mundo dos rios" que é a Amazônia:

Na pata do boi
da várzea crescente,
na malhadeira meeira do mundo
dos rios.

Canoas, rabetas nas águas barrentas,
Curumatá, surubim, pacú,
Pirapitinga do baixo rio.

Nas águas barrentas
do Amazonas sedento,
nas águas serenas
dos canoeiros velozes.

Na remação e no mata-mata
dos dias parados e
do brega rasgado.

Fundo de mata,
beira de rio
que na pata do boi
da várzea secante
se faz na remarcação daquele
mundo de rios.

Poronga com um punhado d”água
Pororoca da Invernada
Rio-mar dessa cantinga de beira-rio.

Para Ver e Ler

Espaço de Resenhas de Livros e Filmes

Isaac Asimov nasceu na Rússia e viveu nos EUA, tendo sido, ao lado de Philip Dick e A. Huxley, um dos principais romancistas de ficção científica.

Entre as obras de Asimov "Fundação" constitui uma construção esmerada, perspectiva de fôlego de uma humanidade que aos poucos perdeu sua humanidade.

A lógica de planejamento do longo prazo de uma Terra expandida além do sistema solar, a convergência tecnológica autoritária e o pleno domínio sobre o exercício mental da empatia, são ingredientes que tornam "Fundação" obra a ser lida em uma unica tragada de prazer e lazer.

O CHE DE SODERBERGH

A inventiva latino-americana sempre foi rica de heróis, alguns míticos outros bem concretos. Desde Bolívar e San Martin, passando por Angelin e Antonio Conselheiro, até os imagináveis heróis carbonários das diversas facções de esquerda espalhadas pelos quatro cantos da ibérica-latina. Deve-se, obviamente, citar os míticos humanos criados por Machado, Márquez, Amado, Llosa, Rosa entre outros.

O que dizer da relação entre o mítico e o concreto, fusão em um tipo totalmente diferente das características do romance e da lâmina fria da realidade latina. Esse me parece o resultado do trabalho de Soderbergh da cinebiografia de Ernesto Che Guevara.

As diversas biografias do “Che” ressaltavam desde sempre sua febril vivacidade, parte da condição de um ser humano formidável. O que há de novo nesta filmografia é menos a figura do herói e sim uma dose, extremamente positiva, de uma capacidade sobre-humana de se doar a um ideal de liberdade.

Até que ponto seres concretos possuem uma sublime áurea ética, algo tão perfeito que custa acreditar que existam. De fato, estes seres sobre-humanos são formas míticas, porém a beleza expressa no conteúdo de vida, condizentes com a completa doação, necessariamente possibilita o toque poético de suas existências.

O Che de Soderbergh é um filme vibrante e um culto a um tipo de heroísmo que esses dias de desestimulante individualismo e malfadados “mutantes” em crise nos estimula a vencer.

Crônicas de Terra e Mar

Era setembro já distante e evidava meus últimos esforços no convencimento de que era possível continuar navegando naquela direção a qual julgava eu e meus testes ser a melhor direção.
Navegar é preciso, viver é incerto mas necessário. Minha atenção continha sempre a certeza de que o melhor rumo brotava daquela velha intuição e não daquele sempre coerente, para alguns, raciocínio breve de que a porta a direita é a melhor porta de chegada ou de saída.
Convencer será sempre difícil, concordar condicional. A partida já tinha sido atribulada, a barcaça reunia jovens e velhos, vários velhos meio jovens, porém muitos jovens velhos.
Quantas discordâncias! Sobre a textura do mar toda a concordância, sobre a força do destino toda a dúvida. Muitos projetos e diversos sentidos a seguir.
Mar ao longe, nenhuma ilha breve, capitão de sol e mar, marinheiro de outras viagens, senti os rumos, falei ao mar, mas não convenci a breve força da dama ar!
Viajar é condição própria, talvez a unica necessária, sem ela parece o eterno ficar. Antes da terra somente o piso vazio das pranchas da Naus sobre o Mar, a crônica primeira será a travessia da borda da água e da seleta busca de qualquer pedaço de frondosa terra.