sábado, 27 de fevereiro de 2010

Diarréia Amazônica

Antes de tudo o pensar era crônico, sem sentenças nem nada.
O pensar era o querer, desenvolver era o nada.
Fez então Deus sua criação: que se faça a bosta, e ela se fez.
No momento seguinte, ao abrir-se o amplo mar de bosta, Deus pensativo indagou: " é necessário um ser coerente com esse mar de bosta; fez, então, sua sua seguinte construção: que se crie um amontoado de bestas andantes, sobre duas patas e sempre peidantes de novas impossibilidades.
Assim Deus, incrédulo de si mesmo, divagando no seu mar de merda criado, abismado de criar tão flatulentes seres, caiu em enorme depressão.
Ao morrer, suspirou, entre tanta merda feita, que ao explodir produziu tantos outros universos!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Inundação

A poesia que segue é, como tantas outras de gente daqui, marcada pelo pulsar das águas. O que infelizmente, pela pobreza econômica histórica, pela disfunção de nossas elites bestiais e pela ausência de muitos anos de planejamento para o desenvolvimento torna, como diz o poeta "nossa cidade triste". Boa leitura:


Chove copiosamente sobre Belém,
alagando as almas e inudando desejos,
Chove sofregamente numa cidade triste,
desfazendo aos poucos velhos quereres,
contradizendo antigas expectativas,
deixando o rastro alagado de ruas, quintais e bocejos sonolentos.


Chove lividamente sobre a baixada de homens gentis.
Cobre as camas, desfaz os leitos, sobrepôs angústias.
Eis um gole de cachaça, branquinha boa que penetra a alma e
aquece o corpo, recebe a enchurrada com a dose de fervor necessária.


A rua encoberta se desfaz e vira o que sempre foi: um igarapé oculto,
forma desfeita pelas mãos descuidadas e necessidades malditas dos maltrapilhos humanos.
Os quintais ao soçobrarem, se enchem e transbordam.
Resta, apenas, o grito comprido do "prego" encharcado no alto do biribazeiro.


A chuva alimenta o pega-pega dos moleques de rua,
na bola suada, na pira danada, na alegrada das brincadeiras
da água vadia.

Chove intensamente na nossa cidade triste.