terça-feira, 29 de junho de 2010

LIVROS

LIVROS são seres mágicos, produtos de infinita ânsia e de permanente orgulho pessoal. Muitos pouco valor coletivo possuem, porém todos acalentam as almas mais diversas. Eis como encará-los:


Paralisado eu os olhava,
Entediados me encaravam,
Os via enfileirados,
Performáticos, incólumes a minha frente.


Não ousava os falar,
Somente os encarava,
Em frente a minha atenção, aos poucos,
Desfaziam-se.


Em gritos me chamavam,
Assinalando nossas buscas.
Paralisado me detive,
Sobre o querer e o saber,
Angustiado vomitava.


As vozes roucas, sigmáticas dos livros
Alucinavam-me.
Nada mais pronunciei.

SONHOS

À Saramago, uma homenagem:


Os sonhos permanecem estranhos:

Ontem me vi estirado no chão,

sobre a terra caído com a boca aberta.


Naquela forma me olhei pálido, incolor,

surpreendetemente ausente de cor.

Na estridente compreensão me vi morto.


A ausência de vida se desfez

quando o corpo incolor e indolor tamborilou,

repercutiu sobre o chão três pontos de pensar:

andar em conta;

sonhar em sonda;

afundar em sombra.


A sedimentação alienada se retirou,

incompreensível a forma oculta se espichou,

sobre o ataúde, o corpo informe cantou, encantado

no mar ou na lua

entrincheirado na guerrilha surda

cantou e calou.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Saramago

Cantar em palavras a alegria do mar, se desfazer em idéias e destoar do ruidoso poder, talvez assim seja José Saramago. Na lingua materna, de tantas formas diretas e de tanto alquebrar.
Nos dizeres de "Caim" ou na proeza dos "Ensaios sobre a cegueira", a descoberta da ficção e da prosa automática, sussurra a invicta impossibilidade dessa lingua estranha e tão poética.
Que nos viva um milhão de séculos Saramago!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Minutos

O tempo é sempre melancólica melodia, seu sussurro sempre nos enche de permanente tédio. O tempo, também é verdugo maldito, sempre querente do nosso viver. O tempo, porém, é preciso senhor, seus ditos são exatos, seus enganos certeiros. Driblar tal exatidão somente com a força do sonhar e a eloqüência do viver:

MINUTOS

Minutos ecoam num batimento cardíaco,
Sons sussurram,
Minutos que passam,
Minutos alisam o tempo verdugo,
Minutos ressoam no divagar das pessoas.

Tempo, tempo, minuto a minuto!
Escorrem sobre a vida e a morte,
Minutos do nada,
Minutos quebrados,
Minutos desastre,
Minutos desfeitos,
Minutos.